A Secretaria Municipal terá que apresentar hoje real situação da doença para confirmação ou não de uma epidemia
O clima ontem, em reunião entre o Ministério da Saúde e a Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), era de aparente desconfiança sobre qual é a real situação da infestação da dengue em Fortaleza. Os números mais recentes - de mais de uma semana atrás - apontam 3.684 casos. Entretanto, os representantes do órgão federal questionam os dados, acreditam que a estatística pode ser maior. Um encontro formal, hoje, com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Fortaleza promete "desatar" esses nós e, enfim, tentar esclarecer: estaríamos vivendo uma epidemia?
O atual coordenador de Promoção e Proteção Sesa, Manoel Fonsêca, presente na reunião de ontem, comentou sobre essa pressão do Ministério da Saúde: "temos que ter mais informações sobre qual é o cenário em Fortaleza. Estamos sem dados mais concretos, faltam estatísticas e mais comprovações para subsidiar as ações. O Ministério da Saúde também está cobrando isso", afirma o coordenador.
Descontrole
Segundo Fonsêca, há vestígios que podem deixar claro a existência de um certo "descontrole" de infestação: o aumento, nas duas últimas semanas, de 90 para 220 atendimentos graves no Hospital São José, a confirmação de 110 casos positivos em um único laboratório particular da cidade e a lotação de casos sintomáticos da dengue nas Unidades de Pronto Atendimento.
O coordenador de Promoção e Proteção à Saúde comentou ainda que o próprio Ministério espera esclarecer melhor algumas dúvidas durante encontro de hoje. Irá exigir, segundo Fonsêca, apresentação precisa dos números, exposição dos métodos de diagnóstico e amostragem, além do plano estratégico conjunto para o caso de declaração, ainda esta semana, de uma epidemia. O mais importante seria, no entanto, evitar os casos graves e novos óbitos no Ceará.
"Sentimos um certo desajuste nos números reais de Fortaleza. Talvez um pequeno atraso, o que revela que a estatística poderia estar, talvez, desatualizada", explica o coordenador.
O atual técnico da vigilância epidemiológica da SMS, Osmar José do Nascimento, até confirma a dificuldade de manter os dados atualizados dia a dia. O motivo seria, segundo ele, a grande demanda de casos graves, o que levaria a uma defasagem de, no máximo, uma semana.
Ele reconhece esse ponto como sendo uma fragilidade, mas afirma que a gestão está realizando reforços; quatro novos digitadores específicos para fazer o repasse dos números já teriam sido contratados. "Estamos fazendo todos os esforços e agindo conforme o plano de contingência compactuado, no ano passado, com o próprio Ministério da Saúde", afirma o técnico.
Nascimento rebate ainda as críticas de subnotificação ou falta de transparência com os números da doença. "Não existe nenhuma negligência nossa. Nos momentos de alta transmissão, acabamos não conseguindo colocar no sistema os dados em tempo real. Há sempre um atraso. Isso é uma realidade que existe em todo o Brasil", explica.
Incidência
Os valores contabilizados até agora revelam que, se levarmos em conta o número de casos confirmados na Capital, que chegam a 3.684, a incidência está em 150 por 100 mil habitantes.
O critério para o anúncio de epidemia é a incidência. Segundo o próprio Ministério da Saúde, a partir de 300 casos por 100 mil habitantes já pode ser declarada uma epidemia. Do total de casos no Ceará, 58% pertencem a Fortaleza, também é responsável por dez dos 12 óbitos.
Alerta
220
atendimentos graves de pessoas com dengue foram registrados, nas últimas duas semanas, no Hospital São José, segundo Manoel Fonsêca
110
casos positivos da doença foram diagnosticados em apenas um laboratório particular da Capital, ainda segundo o coordenador de Promoção e Proteção da Sesa
1.200 novos casos em maio
As projeções dos casos de dengue na Capital para o mês de maio não parecem ser animadoras. Os cálculos médios, estipulados pelo técnico de vigilância da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Fortaleza, Osmar José do Nascimento, apontam uma média de 600 novos casos notificados por semana e, pelo menos, 300 confirmados em sete dias. Isso significaria, segundo ele, cerca de 1.200 novos doentes durante este mês.
Mesmo com essa incidência, ele acredita que não haverá, durante reunião de hoje com o Ministério da Saúde, um veredicto final que aponte uma epidemia.
"Acredito que ainda não seja declarada uma epidemia. Desde de fevereiro deste ano que estamos atento ao aumento dos números", detalha Nascimento.
Com essa situação de crescimento de casos, a SMS anunciou, ontem, várias ações de intensificação para tentar reduzir a infestação e evitar mortes.
Reforço
A partir da próxima segunda-feira (7), a Secretaria Municipal de Saúde promete aumentar as medidas de combate à dengue. A nova operação envolverá as equipes de controle de vetores, de atendimento nos postos de saúde e hospitais e de vigilância epidemiológica. Na rede de atenção básica, 16 postos de saúde de Fortaleza estarão funcionando até o mês de julho no horário noturno, das 17 às 21 horas. As unidades poderão oferecer retaguarda aos demais, reforçando os atendimentos.
Nesses locais, serão realizados exames laboratoriais e tratamentos com reidratação endovenosa. Cada um desses postos terá a equipe ampliada, passando a contar com dois médicos e dois enfermeiros. Os oito hospitais secundários da rede municipal também estarão ampliando a escala de médicos e enfermeiros para garantir o atendimento médico-hospitalar à população.
Além disso, segundo a SMS, os hospitais receberão mais recursos materiais para a área laboratorial, a fim de realizar e agilizar a entrega de exames, reforçando o apoio à rede de atenção primária, formada pelos postos de saúde. Atualmente, mais de 1.440 agentes de combate a endemias ou agentes sanitaristas estão trabalhando para tentar reduzir a incidência da doença em toda a cidade.
IVNA GIRÃO
REPÓRTER
FONTE: DN ONLINE
Nenhum comentário:
Postar um comentário