Pastoral da Terra prevê elaboração de projetos para captar recursos que financiarão obras de abastecimento
Crato Cerca de 10 mil pessoas participaram, ontem, da XXII Caminhada da Fraternidade, que celebra o Dia do Trabalhador na região do Cariri. A manifestação teve início no Crato, na Igreja de São Francisco, e percorreu as ruas da cidade até chegar ao Santuário de São Francisco, em Juazeiro do Norte. Neste ano, com a irregularidade das chuvas, os agricultores amargam uma das piores secas já registradas.
A safra está perdida em mais de 50% das culturas de milho e feijão, falta pasto para os animais e a pecuária enfrenta graves prejuízos. Segundo a agente da Pastoral da Terra, da Igreja Católica, Simone Machado Leite, além dos prejuízos, a seca está causando a vulnerabilidade sociopolítica dos agricultores. Para ela, os programas sociais do Governo Federal são insuficientes e não atendem as necessidades de todos os agricultores.
“Como neste ano teremos eleições, com as dificuldades geradas pela falta de chuvas, alguns políticos podem se aproveitar para comprar votos. Muitas vezes, os agricultores ficam sem opções e acabam aceitando o que lhes é oferecido. Estamos vivenciando a fase da indústria da seca. Infelizmente, as consequên-cias só aparecem depois”, disse.
Diante da falta de chuva, que já compromete os plantios de vários agricultores de base familiar na região do Cariri, a Pastoral da Terra da Diocese do Crato já está prestando assessoria e formação para fortalecer as lutas dos trabalhadores do campo. Neste ano, as ações estão sendo realizados em torno das famílias atingidas pelas obras da transposição das águas do Rio São Francisco.
A principal preocupação da Pastoral da Terra é com as pessoas da zona rural dos Municípios de Jati, Penaforte e Mauriti, que perderam suas terras e migraram para os centros das cidades, onde estão vivendo sem perspectivas de emprego e sem vínculos com as comunidades.
Soberania alimentar
Devido ao fato de muitos agricultores estarem sobrevivendo com pouca água armazenada em reservatórios domiciliares, açudes e lagoas, a Pastoral da Terra está abordando, atualmente, a soberania alimentar por meio dos quintais produtivos das mandalas existentes na região, e a captação de água das chuvas, depositada em cisternas.
Caso a seca se agrave ainda mais, a Pastoral prevê elaborar projetos para captar recursos financeiros que possam auxiliar os agricultores a suprirem suas carências no campo.
Ao longo do percurso de 15 quilômetros entre as duas cidades, os trabalhadores de vários seguimentos uniram suas reivindicações e pediram bênçãos para continuar a jornada. O objetivo da caminhada, que acontece desde 1990, é fortalecer os laços entre os trabalhadores das duas cidades, marcadas por divisões históricas, políticas e culturais.
Durante o percurso, o foco das abordagens dos trabalhadores foi tema da Campanha da Fraternidade, que neste ano é “Fraternidade e Saúde Pública: que a saúde se difunda sobre a Terra”. Diferente dos eventos alusivos à data realizados pelos movimentos sindicais, que geralmente abordam as dificuldades dos trabalhadores, a Caminhada da Fraternidade teve como foco as lutas e conquistas, com destaque para a dignidade do trabalhador. Para realizar o evento, a Igreja Católica teve o apoio das equipes de diversas pastorais de Juazeiro e Crato, da iniciativa privada e de órgãos do públicos, como Polícia Militar.
A partir de uma perspectiva libertadora e sob visão da Igreja Católica, os trabalhadores refletiram sobre sua importância social relacionada aos significados do valor do trabalho das mulheres e dos homens no Brasil, fizeram suas reivindicações e buscaram a igualdade entre as classes.
De acordo com o pároco da Paróquia de São Francisco de Assis, padre Marcondes Torquato, o tema da caminhada expressa a preocupação com a vida humana, ameaçada pelo descaso e pela precariedade em geral. “Queremos simplesmente fazer com que as pessoas percebam que as diferenças dificultam a nossa caminhada. Não gostaríamos que nenhum posicionamento político acentue essas desigualdades. Estamos buscando um caminho em que possamos andar lado a lado”, disse ele.
No próximo dia 27 de maio, no Município de Assaré, a Pastoral da Terra, em parceria com os sindicatos dos Trabalhadores Rurais, vai realizar a Celebração da Colheita. A missa será em agradecimento aos poucos grãos que os agricultores conseguiram tirar de seus roçados.
Mais informações:
Diocese da Igreja Católica no Crato, Rua Teófilo Siqueira 631, Centro
Região do Cariri
Telefone: (88) 3521.1110
Yaçanã Neponucena
Repórter
Lideranças pedem ações contra a seca
Icó Cerca de 500 agricultores, sindicalistas, representantes de movimentos sociais, servidores públicos municipais, estaduais e federais também realizaram, ontem, nesta cidade, a tradicional manifestação de 1º de Maio. Os líderes apresentaram reivindicações ao Governo do Estado e à Prefeitura: distribuição de água por meio de carro-pipa, assinatura do decreto municipal de situação de emergência, prorrogação de dívidas agrícolas, liberação de crédito para aquisição de ração para o rebanho e construção de cisternas de placas.
O ato público é promovido pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Icó há 33 anos em parceria com outros sindicatos. Neste ano, a preocupação das lideranças foi com a seca que castiga a região. O tema central da manifestação foi "Construindo a história e resgatando a cidadania", em comemoração aos 40 anos de fundação do STR de Icó. Após concentração em frente ao sindicato, os manifestantes enfrentaram o sol quente e percorreram algumas ruas do centro comercial e do sítio histórico da cidade.
O grupo passou em frente à sede da Câmara de Vereadores e da Prefeitura, onde foram feitos rápidos pronunciamentos.
A concentração foi realizada sob a sombra de uma tamarideira, próxima ao Teatro da Ribeira dos Icós, onde lideranças políticas e do movimento sindical se pronunciaram sobre as reivindicações básicas. Antes, fizeram um minuto de silêncio em memória aos que lutaram nas últimas quatro décadas em favor das categorias de trabalhadores.
O secretário de Políticas Agrícolas do STR de Icó, Ireudo Félix, disse que a seca tem provocado perda da lavoura de milho e de feijão que chega a 80%. "A situação é muito preocupante e em muitas localidades falta água e pastagem para o gado", observou. "A maioria não plantou por falta de chuva".
O sindicato solicitou antecipação do pagamento e acréscimo de uma parcela do programa Garantia Safra e distribuição urgente de água. O presidente licenciado do STR, Lourival Teixeira, disse que a entidade vem lutando contra a transferência de uma área de 270 hectares pertencentes ao Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) para o Município. Representantes do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Icó, do Sindicato dos Professores do Município, do Sindicato dos Servidores Públicos Federais e da Pastoral da Juventude do Meio Popular participaram do ato público e solicitaram melhoria para o setor de saúde, implantação de um calendário mensal de pagamento para os servidores da saúde e implantação do Piso Nacional de Salário para os docentes.
O servidor público federal Erivan Anastácio criticou a falta de médicos e a precariedade do atendimento no Hospital Regional de Icó. "Há carência de profissionais de saúde", disse. "Os serviços precisam ser melhorados e ampliados".
Os irrigantes vivem a expectativa de que o Dnocs realize a reconstrução de canais de irrigação no Distrito Irrigado Icó - Lima Campos e de construção de um canal por gravidade para levar água para os lotes que há mais de dez anos não são favorecidos por irrigação.
O sistema antigo tem elevado o custo de energia para o bombeamento da água que chega ao Rio Salgado, oriunda do Açude Lima Campos.
Outro tema tratado pelos manifestantes foram as eleições municipais que serão realizadas em outubro próximo.
Pronunciamentos criticaram a corrupção na administração pública nas esferas federal, estadual e municipal e os políticos com fichas sujas.
HONÓRIO BARBOSA
REPÓRTER
FONTE: DN ONLINE
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