O ex-chefe de Gabinete do Banco do Nordeste, Robério Gress, afirma que a onda de denúncias envolvendo a concessão de empréstimos na instituição, sob auditoria interna e da Controladoria Geral da União (CGU), surgiu para despistar possíveis irregularidades em operações maiores. “Eu acho que as coisas vão aparecer”.
Robério descreve a teia de indicações que compõe a Diretoria do Banco e afirma que o alvo das denúncias são o PT e o deputado José Nobre Guimarães, de quem é amigo.
Robério foi exonerado pelo presidente Jurandir Santiago por telefone. Ele disse nem sequer ter constituído advogado porque não há nada de concreto contra ele. Robério conversou com OPOVO com exclusividade na casa dele, uma residência de classe média, na Água Fria.
O POVO – Qual foi sua reação quando o senhor leu a matéria que o acusa?
Robério Gress – Não houve surpresa quando, na manhã da sexta-feira passada (9), eu vi na Internet. Porque, na quarta-feira, véspera do feriado, o jornalista encaminhou à assessoria de imprensa algumas perguntas. Com relação a mim, ele perguntou se eu confirmava que eu era cunhado de Marcelo Rocha Parente e Felipe Rocha Parente. O que eu pude afirmar é que todos os fatos ali eram verdadeiros. Sou, temos parentescos afins, porque cunhado é afinidade, porque a minha mulher realmente é irmã do Felipe e do Marcelo.
OP - Portanto, foi por meio do Banco, e não pelos seus cunhados?
RG - Soube por meio do banco, mas também não nego que tinha conhecimento de que eles tinham procurado o banco para adquirir financiamento. Nenhum normativo restringe nem proíbe eles fazerem isso, mas que não contou com a minha participação.
OP – Quando seus cunhados decidiram tomar o empréstimo o senhor não foi consultado?
RG - Eu sabia que eles estavam com planos de colocar uma indústria de reciclagem, me perguntaram e eu disse ‘Rapaz, o banco está aberto, acho que não tem nenhum impedimento de vocês serem meus cunhados’, mas de nada tratei a respeito nem fiz nada politicamente. Agora, errou, paga! Se eu errar, eu pago! Pago com meu emprego, pago! Agora eu acho que, por enquanto, ser cunhado de alguém que não adotou um procedimento correto não é motivo para fazer essa carnificina comigo.
OP – O que foi determinante para o senhor resolver falar?
RG – As pessoas tendem a achar que nós devemos nos calar. Eu não tenho nenhum objetivo de acusar pessoas sem ter provas. Mas, voltando ao assunto, nós podemos fazer reflexões em cima de acontecimentos. Nós temos no quadro da direção do banco, à exceção do presidente, todos funcionários da casa. Mas sem sombra de dúvidas, que bancados por políticos e aliados. No caso do presidente Jurandir Santiago, eu te confesso que eu não sei por quem ele foi indicado, talv, desde o PSDB até o PT, eu não consigo encontrar um grau de ligação. Já nos outros eu vejo, é muito evidente.
OP - Quem são? Um a um.
RG - Nós temos hoje José Sydrião Alencar, meu amigo, diretor de Gestão do Desenvolvimento, que é uma pessoa de alta competência, é provavelmente indicação do deputado (José) Guimarães (PT) e não esconde. Você tem pelo outro lado do PT o Stélio Gama Lira, indicado pelo deputado Eudes Xavier. Pelo PMDB, foi indicado, para a Diretoria de Controle e Risco o Isidro Morais de Siqueira, bancado particularmente pelo PMDB do Aníbal Gomes (deputado federal do PMDB do CE) e do Henrique Eduardo Alves (RN). Outro, o ex-superintendente financeiro de Mercados e Capitais, Fernando Passos, já é uma articulação um pouco diferente. Ele reuniu forças e foi bancado especificamente pela Fazenda e pelo secretário-adjunto executivo, Dyogo Henrique, eu não sei, mas acho que também tem um parentesco com ele (é concunhado). Aí fica claro que apadrinharam o Passos o Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) e o próprio Michel Temer (vice-presidente da República). O diretor de Negócios, Paulo Sérgio Ferraro, tem a chancela do governador Jacques Wagner. Para fechar, nós temos o Luiz Carlos Everton, diretor dos Recursos de Terceiros, é uma pessoa próxima ao senador Wellington Dias (PT-PI).
OP – O senhor disse que foi indicado chefe de gabinete pelo então presidente Roberto Smith. Não houve nenhum peso do PT?
RG – Acho que sim. Apesar de não ser filiado, nunca fui filiado ao PT e a nenhum outro partido. Eu fiz faculdade de economia, o Guimarães (deputado José Nobre Guimarães, do PT) entrou na faculdade de direito, o curso básico era no mesmo lugar. Acabei me tornando um amigo de faculdade.
OP – Essa vinculação política não interfere na gestão do banco?
RG – Pela minha análise, essa briga está sendo muito prejudicial ao Banco do Nordeste, nos cargos estatutários, porque é um grupo daqui, um dali, é o PMDB que quer ganhar mais espaço e quer foder com o PT, então essa questão, eu acho, acaba deixando muitas vezes em xeque a própria administração do banco. Acho que o banco é composto por pessoas sérias, mas existem alguns fatos estranhos.
OP – Por exemplo?
RG - Até agora, que mais me intriga uma ligação telefônica. Por volta das 9h30min da manhã da quarta-feira, do dia 23 de maio, na minha sala do Gabinete da Presidência, do outro lado da linha o diretor Fernando Passos, que de pronto pede reserva no assunto. Eu digo “Alô, pois não, Fernandinho!” Primeiro ele diz “Chefe, o que eu vou tratar com você eu lhe peço muita reserva e peço para que você não comente com o Alencar. Chefe, você vai ser convidado para substituir o Alencar na diretoria de Gestão do Desenvolvimento e aceite, porque o Dyogo, presidente do Conselho de Administração do banco, não aguenta mais o Alencar. E o Alencar é mesmo um filha da puta”, entre outros adjetivos que não vale a gente citar aqui. Aí eu respondo “Mas como, Fernandinho? As lideranças políticas sabem disso?”. “Se não sabem, vão saber.” Aí eu disse “Você sabe que o Alencar é um dos meus melhores amigos dentro do BNB e o assunto é muito delicado”. “É, chefe, mas ‘num’ dá mais, não”. “Ok, Fernando, vamos esperar” e desligo. Eu, que não me considero traíra, como amigo do Alencar, não cumpri. Imediatamente comuniquei o Alencar, “Olha, Alencar, fiquei surpreso com isso. Estou lhe comunicando, não tenho nada a ver com isso, mas recebi essa ligação”, nesses termos. O Alencar disse: “Não, tudo bem”, muito tranquilo. Não sei de onde vem isso, apenas lhe relato como relatei para o Alencar. Eu falei para o Alencar, ficou por isso, o Alencar ficou participando lá (de um evento na Bahia).
OP - O senhor falou para mais alguém?
RG - No outro dia, e aí eu vou guardar o devido sigilo nessa informação, sou procurado por uma liderança política do Ceará que me relata que foi procurado pelo Dyogo, que disse que o Alencar realmente não tinha mais condição de ficar, que tinha que ser substituído e que o nome era eu. Aí é onde eu não consigo ainda entender. Porque o normal seria eu ser informado que ia ser convidado talvez pelo presidente do banco. Na semana seguinte, sai uma reportagem na Época de uma pessoa ligada ao PMDB, como é o Fernando Passos. Não faço conectividade como uma pessoa na terceira linha do Ministério da Fazenda antecipou uma coisa a um diretor em vez de antecipar talvez ao presidente. Se estão vinculando meu nome aos dos meus cunhados, também não é uma vinculação a ser questionada? O que estou dizendo aqui, se precisar dizer quem é a liderança política depois direi. Mas é fato.
OP – Houve um vazamento de informação interna.
RG – Esse é outro problema. O Jurandir Santiago, desde o início, administrou o banco do ponto de vista de assuntos estratégicos juntamente com o Fernando Passos, com o Stélio e com a auditoria, então ninguém tinha acesso. Eu também, o que posso fazer? Sou um servo, não fui chamado. Dimas Tadeu, auditoria, o Passos e o Stélio. E é por isso que eu digo que não sei de onde vem as indicações políticas. Como é que uma pessoa que foi indicada pelo Eudes Xavier faz parte do núcleo duro? Então não foi o Guimarães. É por isso que não me convence. Aí sim, estava sendo preparado esse relatório de auditoria com relação a esse conjunto de operações e eu acho que devia ser feito de forma sigilosa, mas que esse documento só foi dado conhecimento oficial, só podia ser dado, ao conselho de administração, ao comitê de auditoria, cujo presidente é o Dr. João Melo. E um relatório desse vaza para a revista Época.
OP – Quem seria o alvo das denúncias?
RG – Não tenho dúvida de que a reportagem é para atingir o PT, o deputado José Guimarães e usar o Robério Gress como instrumento, porque a matéria faz uma ilação e dá a distorcer que eu sou responsável por um caixa dois de campanha da ordem de R$ 100 milhões. Não tem, nem no relatório que foi vazado nem no relatório da CGU, menção ao meu nome em nada.
OP – E por que o senhor não é mais chefe de gabinete?
RG – O presidente Jurandir não me explicou. Apenas me ligou em tom lacônico, distante como sempre foi e disse que era isso mesmo.
OP – Se o senhor fosse definir em uma palavra, qual seria? Injustiça?
RG – Não, eu incomodei alguém. Estou ainda fazendo minhas reflexões.
OP – O Passos é o diretor hoje mais forte no banco?
RG – O Passos é o diretor mais influente no banco hoje. Isso eu afirmo. Por que eu afirmo? Porque eu lhe relatei o acontecido. O que me estranha é exatamente isso. Porque o Passos que é um indicado do PMDB tem força junto a um governo de uma área sensível, importante, que é a Fazenda, que é do PT? Essa é uma pergunta.
OP - Noutros termos, o senhor está a dizer que “O alvo não sou eu”?
RG - Eu afirmo: o alvo não sou eu, eu sou um elemento que dá “manchete”.
OP: Onde é que seria esse alvo?
RG: Eu acho que as coisas vão aparecer. Eu, hoje, tenho forte sentimento de que isso é para desfocar de uma questão maior. De uma questão maior operacional. Para desfocar de uma questão maior.
OP: Mas há questões maiores acontecendo no Passaré?
RG: (Pausa) Não sei...
O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
A publicação de denúncias envolvendo empréstimos do BNB trouxe à tona questões políticas que poderiam estar por trás do vazamento das investigações feitas por auditoria interna.
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