A precariedade no atendimento resultou, inclusive, em tumulto e tiros no Gonzaguinha da Barra do Ceará
Em meio ao surto de dengue que vem lotando de pacientes as unidades de saúde da Capital, nas últimas semanas, gestores dos hospitais públicos atribuem a superlotação à falta de orientação das pessoas, que não estariam procurando atendimento nos postos de saúde. Na verdade, os pacientes até recorrem à atenção primária, mas não conseguem ser atendidos. O jeito é procurar os Gonzaguinhas e Frotinhas, que já sofrem com a ausência de médicos.
Na emergência do Gonzaguinha da Barra do Ceará, por exemplo, são horas de espera. Faltam assentos para tanta gente. A maioria, com sintomas da dengue, espera de pé ou até mesmo no chão, como o serigrafista Rafael Carvalho dos Santos. "Estou com muita dor de cabeça e no corpo. Cheguei às 7h, já são 11h e ainda estou aguardando", diz.
Na noite do último domingo, usuários invadiram a emergência do hospital para protestar contra a precariedade no atendimento. Tiros foram disparados do lado de fora. "Eu estava aqui e vi quando a confusão começou. As pessoas reclamavam da demora e da falta de médicos. Arrombaram o portão para quebrar as cadeiras, mas a Polícia chegou em seguida", relata a costureira Diana Ramos.
O diretor clínico do Gonzaguinha da Barra do Ceará, Wagner Freire, nega que a invasão aconteceu como forma de protesto. "As pessoas tiveram medo quando escutaram os tiros. O tumulto foi por conta disso", justifica. Ele diz que só um clínico geral trabalhou no período diurno de domingo, mas, à noite, eram dois.
Nos últimos três meses, o atendimento mensal no Gonzaguinha da Barra do Ceará praticamente dobrou, passando de cinco mil para nove mil. A cada 15 dias, conforme Freire, há um "furo" na escala dos clínicos gerais, com apenas um profissional trabalhando. Nos outros dias, varia de dois a três médicos.
Já na emergência do Frotinha do Antônio Bezerra, na manhã de ontem, apenas dois clínicos trabalhavam no local, um na emergência e outro na Unidade de Terapia de Urgência (UTU). "A falta de clínicos gerais é o nosso calo. Atualmente, temos 11 profissionais, mas deveríamos ter 18. Não temos clínico nas terças e nem nas sextas-feiras durante o dia", lamenta o diretor clínico Marcos Almeida. Ele informa que 60% dos atendimentos do Frotinha do Antônio Bezerra poderiam ser realizados em postos de saúde.
Seleção
No que diz respeito à falta de profissionais, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) esclarece que a Prefeitura fez seleção pública, no começo de maio, para a contratação de mais 217 médicos para rede de saúde do município e aguarda o resultado da seleção. Além dos médicos, a seleção busca contratar 428 profissionais de níveis superior e médio para outras especialidades.
Conforme a promotora de Justiça de Defesa da Saúde Pública, Isabel Porto, dois procedimentos administrativos já foram encaminhados à Prefeitura: um em relação à superlotação e falta de profissionais e outro cobrando ações para combater a dengue.
Lotação
9 mil pacientes foram atendidos, por mês, no último trimestre, no Gonzaguinha da Barra do Ceará, conforme dados do diretor clínico da Unidade, Wagner Freire
Obra parada está atrasada há cerca de três anos
Outro problema identificado no Gonzaguinha da Barra do Ceará é o atraso de quase três anos nas obras de ampliação do equipamento. Em vez da construção de uma clínica médica, uma emergência pediátrica e leitos de internamento, o que se vê no local são tijolos espalhados, fiação solta e poças d´água devido a vazamentos no teto.
"Alaga sempre quando chove. É preciso colocar água sanitária nas poças para evitar a proliferação do mosquito", afirma o diretor executivo do hospital, Magela Leite. Na opinião dele, caso a obra tivesse sido concluída, a situação nos corredores na unidade não estaria tão grave.
De acordo com a Secretaria Executiva Regional (SER) I, a obra foi suspensa porque a empresa responsável pela reforma faliu. Contudo, o órgão informa que a ampliação do Gonzaguinha da Barra do Ceará já passou por uma nova fase de desenvolvimento de projeto, licitação e publicação de contrato. Porém, as obras só serão retomadas após liberação da verba do Ministério da Saúde e da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
A SMS diz que as obras serão reiniciadas assim que o Ministério liberar os recursos.
RAONE SARAIVA
REPÓRTER
DN ONLINE
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