sexta-feira, 27 de abril de 2012

Motoqueiros cometem 70% das infrações de trânsito no Interior


Falta de carteira de habilitação está entre as principais infrações praticadas por condutores de motos


Quixadá As motocicletas são a principal causa dos problemas no trânsito do Interior do Ceará. Conforme dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) e Polícia Rodoviária Estadual (PRE), somente neste ano, de janeiro até a primeira semana de abril, 2.500 motos já foram apreendidas. A maioria dos casos era de condutores sem a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Das infrações registradas no trânsito do Interior, 70% são cometidas por motociclistas. Depois da falta da CNH, a falta do principal equipamento obrigatório, o capacete, vem logo em seguida entre as infrações.

O número de multas aumentou 101% em relação a igual período do ano passado. Seriam ainda maiores para uma frota de 663.392 motocicletas em circulação nas cidades interioranas se o Detran e a PRE fossem mais rigorosos, cobrassem também o uso de calçado adequado para esse tipo de veículo motorizado.
Todavia, a maior preocupação é com os acidentes. No ano passado, 930 pessoas perderam a vida sobre duas rodas no Ceará. De acordo com os representantes dos órgãos de trânsito, mais da metade dos óbitos estão relacionados à embriaguez.
Neste ano, até março, 1.119 motoristas e motociclistas foram punidos administrativamente por dirigir alcoolizados nas rodovias cearenses. No ano passado, foram apenas 187. O acréscimo, próximo à casa dos 600%, está associado ao conhecimento da possibilidade de pararem atrás das grades caso soprem o bafômetro e o resultado do teste seja superior a 0,6g/l. Por isso, se recusam em fazer o exame. Não se arriscam. Preferem ter a CNH apreendida.
Na opinião do comandante da PRE, coronel Túlio Studart, esses números refletem a omissão de Prefeituras do Interior em relação à fiscalização do trânsito. No último fim de semana, oito pessoas morreram e 52 ficaram feridas nas CEs e BRs. Foram registrados 62 acidentes. O balanço foi levantado junto às Polícias Rodoviárias do Estado e Federal. O comandante da PRE considera esses resultados alarmantes. Do total de mortos, quatro eram motociclistas e outros dois ciclistas. Embora a maioria dos casos ocorra por imprudência e negligencia de quem conduz o veículo, a falta de fiscalização contribui para a elevação dos desastres. Ele se refere à ausência de órgãos municipais de trânsito na maioria das cidades cearenses. Apenas 52 implantaram Departamentos ou Autarquias. Desse total, no máximo dez executam a atividade com eficiência. O oficial não citou os nomes das cidades. Uma semana antes, uma colisão causou a morte de dois jovens em Quixadá. Um deles era um mototaxista de 20 anos. O outro era um estudante de 17 anos. Uma musicista de 23 anos ainda está internada no Instituto José Frota (IJF) em Fortaleza. Os três trafegavam numa motocicleta, na manhã do domingo, quando foram colhidos por uma caçamba.
De acordo com a Perícia Forense, o motociclista realizou uma manobra imprudente e foram atingidos pelo utilitário. Testemunhas haviam visto o piloto consumindo bebida alcoólica na madrugada. O acidente ocorreu pela manhã, já dia claro. Foram mais três vítimas nas estatísticas do trânsito desta cidade do Sertão Central.
A respeito das fiscalizações no Interior, o comandante Studart explica ser obrigação dos Municípios, conforme determina o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), desde 1997, mas a maioria não tem interesse. Para o oficial militar, infelizmente, muitos só passam a respeitar as normas quando são punidos. Além dos transtornos à segurança, também provocam prejuízos à saúde pública. Ele cita os casos de traumatismo craniano, pela falta do uso de capacete e fraturas por todo o corpo, em razão das quedas e outros acidentes. “Representam 90% dos internamentos no IJF”, acrescenta o comandante PM.
Representando o Ministério Público Estadual, o promotor de Justiça Gilvan Melo acredita na educação como melhor solução para o problema. Na opinião do promotor, a maioria das Prefeituras não tem estrutura para implantarem seus órgãos de fiscalização. “Ao invés de multas, deveriam se preocupar em melhorar a malha viária e da sinalização”, destaca Gilvan Melo.
Mais informações:


Departamento Estadual de Trânsito Av. Godofredo Maciel, 2900 Fortaleza, (85) 3101.5588
Polícia Rodoviária Estadual
Telefone: (85) 3433.7010

Reforço deve melhorar blitze nas vias públicas


O superintendente do Departamento Municipal de Trânsito (DMT) de Quixadá, Francisco Clerton do Carmo, atribui os elevados índices de acidentes no trânsito à falta de educação dos motoristas e principalmente dos motociclistas. Reconhece haver na sua cidade falha na sinalização. Quanto à fiscalização, disse que o DMT está ganhando reforço. Além de mais dez agentes, o órgão receberá no dia 1º de maio mais três motocicletas e um automóvel.

No total, 18 agentes estarão atuando no Município. O reforço deverá inibir os acidentes como também elevará o número de veículos apreendidos até os proprietários se conscientizarem de suas responsabilidades e obrigações no trânsito. “O Detran e a PRE também podiam ajudar”, ressalta ele.
De acordo com o Detran, o órgão estadual realiza fiscalizações frequentes no Interior. Nas blitze conta com apoio da Polícia Rodoviária do Estado. Apesar da apreensão dos veículos e aplicação de multas, algumas superiores a R$ 2 mil, os condutores aparentam não se intimidar com as fiscalizações. Acabam arranjando um jeito de voltarem às ruas, geralmente sobre duas rodas. Os depósitos dos departamentos e autarquias de trânsito estão lotados, mas sempre aparecem mais motocicletas. Os mais atentos, quando veem as equipes, procuram fugir. Alguns furam as barreiras policiais, outros não. Acabam nas delegacias, hospitais ou cemitérios.
Punição


A respeito do comportamento dos infratores, tanto representantes das instituições estaduais como municipais responsáveis pela fiscalização, avaliam a punição como alternativa mais rápida para redução dos problemas. Sem elas o número de acidentes e de mortes no Interior seriam ainda mais elevados.

Para a maioria, acidentes e tragédias só acontecem com os outros. “Dificilmente um ser adulto aceitará novas regras. A conscientização e assimilação dos conceitos corretos e respeito às leis do trânsito está na educação escolar, na formação das crianças e adolescentes”, avalia o coronel PM, Studart.
Flagrados praticando irregularidades, os motoristas e motociclistas fugiam da reportagem. Quem estava sem capacete, sem calçado adequado e a moto não emplacada e se dispôs a falar sobre o assunto, pediu para não ter seu nome revelado. Era um vendedor de 26 anos. Para ele as autoridades deveriam se preocupar com problemas mais graves como assaltos a bancos assassinatos e roubos.
Ele citou também os políticos. Apontou a corrupção como outro motivo para a prática da irregularidade. “Se o meu vizinho, chapa de um vereador, anda por aí todo irregular e até o filho dele, de 14 anos, dirige e pilota moto pra cima e pra baixo, porque eu não posso? Se onde não tem fiscalização o prefeito não cobra, onde tem, eles costumam cobrar, quando não é em voto é em dinheiro”, desabafa.
Quixeramobim é uma das raras cidades do Estado onde não há interferência política, garante o presidente da Autarquia Municipal de Trânsito, Mauro Ricarte. Segundo ele, o gestor municipal dá plena autonomia ao órgão, onde não existe aquele “favorzinho”. Quem infringe a lei é punido. Como na análise do comandante da PRE os motociclistas são os campeões de infração na cidade, afinal, representam mais de 70% da atual frota de 15 mil veículos.
Muita coisa melhorou na área urbana. Praticamente ninguém circula sem capacete. A desobediência acaba em multa. Mesmo assim, em razão do número limitado de agentes, não há como fiscalizar toda a cidade durante 24 horas por dia. O número de fiscais é o mesmo, desde a implantação da primeira autarquia da região, em 2006. “Na época, a frota era de 5 mil automotores e motocicletas”, explica Ricarte.
Dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) apontam quase 1,2 milhão de veículos registrados no Interior do Ceará. O crescimento, de 2002 aos primeiros meses de 2012, é de 225,44%.
Na capital, o percentual nesses 10 anos atingiu 96,11%. São 789 mil até fevereiro. Desse total, 63,42% ou 750.448, são motocicletas e motonetas, veículos com menos 50 cilindradas.
DIÁRIO DO NORDESTE

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