quinta-feira, 19 de abril de 2012

Bancos privados cedem e reduzem ´gordura´ das taxas ao consumidor


Com adesão de Itaú e Bradesco, parcela significativa da população terá acesso a juros mais baixos

O governo conseguiu o que queria. Após uma queda de braço com os bancos - que rendeu, inclusive, farpas entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e os representantes do setor nos últimos dias -, as grandes instituições financeiras privadas cederam e acabaram seguindo o exemplo de Banco do Brasil e Caixa, reduzindo suas taxas de juros. Ontem, Bradesco e Itaú se juntaram a esse grupo, que também já contava com HSBC e Santander. Juntas, essas seis megaempresas possuem cerca de 82% da participação de mercado em operações de crédito e arrendamento mercantil (também conhecido como leasing), de acordo com dados do Banco Central de abril do ano passado.

Os cortes por parte dos bancos privados robustecem a estratégia do governo, que vem ocorrendo desde o ano passado, com contínuas diminuições na Selic e, mais recentemente, o anúncio de queda nos juros nos bancos públicos. Acompanhando os anúncios de retração da taxa básica, os privados já vinham diminuindo seus percentuais de juros, mas de modo muito sutil. Agora, as ações foram significativas e superaram os 10 pontos porcentuais de corte ao ano.

Passo importante

"Ainda tem algumas taxas no Brasil que são muito altas - até sem sentido de serem assim. Temos um trabalho pela frente, principalmente no sentido de melhorar a qualidade do crédito, a cobrança e a análise desse crédito (com o cadastro positivo, por exemplo). Mas foi um primeiro passo importante", analisa Ênio Viana, economista e vice-presidente técnico do Ibef-CE (Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças).

De acordo com ele, o governo federal está aproveitando uma "boa oportunidade" para posicionar os juros nacionais a níveis mais aproximados dos cobrados no exterior. Ele lembra que países como China, Estados Unidos e nações europeias trabalham com juros reais negativos.

No entanto, acredita, os efeitos por aqui deverão demorar, em torno de seis meses, para impactar de modo mais prático a economia nacional. "Isso vai ajudar (no crescimento do PIB), mas não vai resolver. Depende muito do mercado internacional. Mas o caminho é o consumo interno, que já tem sido potencializado com redução de impostos e aumento de crédito", diz.

Viana frisa também que juros menores não influenciam somente o consumo, mas também favorecem investimentos e atração de empresas para o País.

Bradesco e Itaú

Ontem, o Bradesco anunciou uma queda no crédito pessoal de 2,66% ao mês para taxas mínimas de 1,97% ao mês. No financiamento de veículos, por exemplo, a cobrança passa de 1,35% para taxas a partir de 0,97% ao mês. Ao ano, o consignado do Bradesco caiu de 17% para 11%. Além disso, o banco divulgou cortes para empresas.
Pouco depois, foi a vez do Itaú, que contará com juro de 0,99% em financiamentos de veículos e mínima de 0,89% em empréstimos consignados para beneficiários do INSS, entre outras redução. Os novos valores cobrados pelos bancos passam a valer a partir da próxima segunda-feira, dia 23.

Os primeiros

Na semana passada, a Caixa Econômica, primeira a iniciar a série de ajustes, tornou públicas as alterações nas taxas de juros, com o objetivo de atrair 2 milhões de novos clientes.

O banco, que conta com 25 milhões de correntistas, reduziu a taxa do cheque especial de 8,25% para 4,27%, dentre outras modificações significativas. Mais tarde, foi acompanhado pelo Banco do Brasil. HSBC e Santander também já tinham aderido à estratégia.

É válido ressaltar que, em todos os bancos, sejam eles públicos ou privados, os juros menores e os prazos maiores são oferecidos somente para quem já é cliente e, em certos casos, com algum tempo de casa. Alguns fazem exigências mais específicas para liberar taxas menores aos seus consumidores.

Condições específicas

O Itaú, por exemplo, permite a taxa mínima para financiamento de veículos (0,99%) apenas para aqueles que pagarem entrada equivalente a 50% do valor do bem e dividirem o restante em 24 parcelas. O banco ainda reduziu o juro no cheque especial apenas para clientes com conta-salário. O Bradesco, por sua vez, não baixou os percentuais cobrados no cheque especial para ninguém. E as mudanças do Santander afetarão apenas empresas.

Perfil é considerado

De acordo com as instituições, os percentuais cobrados também variam de acordo com o perfil do cliente e o relacionamento dele com o banco.

Especialistas recomendam que o cliente possivelmente seduzido por taxas menores em outras instituições, negocie condições melhores no lugar onde já tem vínculo antes de trocar de banco. Quem tem vários produtos no mesmo banco, como seguros e aplicações financeiras, tende a obter maior poder de barganha nessas horas.

´Briga´ por cliente ganha força

Além de reduzir juros para não perder espaço no mercado de crédito, os bancos entraram em uma ´guerra´ para atrair novos clientes, principalmente os assalariados. Santander e Itaú anunciaram pacotes com condições diferenciadas e taxas menores para quem optar por receber salário nos bancos. Nos empréstimos, quem for cliente vai conseguir os menores juros e prazos maiores.

Na semana passada, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal já haviam anunciado vantagens semelhantes.

Novos adeptos

Ontem, o BB informou que abriu 50,4 mil contas correntes dentro dessa nova estratégia nos quatro primeiros dias úteis após o anúncio, dia 12. Já a Caixa divulgou crescimento de 11% na base de clientes pessoas físicas na primeira semana das novas condições ao cliente em relação à semana anterior.

Condição especial

Ontem, o Santander anunciou a criação da conta corrente "light", com um sistema diferente de cobrança de juros no cheque especial. Quanto menos a pessoa usar o limite, menor a taxa de juros do cheque especial. Os juros começam em 4% ao mês para os clientes que utilizem até 25% do seu limite e sobem para 8% para quem usar acima de 50,01%. "A conta Light beneficia aqueles que usam pouco o cheque especial, apenas para uma eventualidade ou imprevisto", destaca o banco em comunicado à imprensa.

Pacote

O Itaú divulgou, também ontem, o pacote chamado de "MaxiConta Portabilidade Salário", voltado a clientes que recebem seu salário em conta corrente do banco. Ao aderir a esse plano, o cliente tem acesso a taxas de juros reduzidas e maior número de transações bancárias incluídas. Esse pacote estará disponível para os consumidores a partir de 2 de maio.

De acordo com informações do Itaú, os juros para os clientes que aderirem terão redução de até 47%. É o caso, por exemplo, da taxa mínima do cheque especial, que será reduzida para o patamar de 1,95% ao mês. No cartão de crédito, o rotativo passará a ter taxas mínimas a partir de 3,85% ao mês.

Para os clientes que aderirem ao pacote e usarem mais de 50% do limite do cheque especial ou do rotativo do cartão de crédito por três meses consecutivos, o banco oferecerá parcelamento do saldo com taxa a partir de 4% ao mês, em até 24 meses.

VICTOR XIMENES
REPÓRTER

O QUE ELES PENSAM

Não há razão para reclamar

"Todos vão ganhar muito. A gente tem espaço para reduzir juros no Brasil. Os grandes bancos privados são importantes na concessão de empréstimos para capital de giro das empresas e para pessoa física. O crédito é necessário para estimular o consumo e manter o mercado brasileiro aquecido e forte. Isso deve promover uma queda de spreads bancários no País".

Robson Andrade
Presidente da CNI

"Os bancos privados já deveriam ter reduzido juros antes, e sem reclamar. É evidente que a tendência dos juros de longo prazo do país é cair. A poupança é o principal empecilho para que a taxa real de juro (descontada a inflação) caia para menos de 6% ao ano. Até é possível reduzir, mas aí você teria todo mundo na poupança e fecharia os outros investimentos".

Delfim Netto
Ex-ministro da Fazenda

FONTE: DN ONLINE

Nenhum comentário:

Postar um comentário