Considerado "ruim", o Rio Salgado foi apontado como o mais poluído entre os pesquisados no Estado
Juazeiro do Norte. A esperança ainda é o grande incentivo para o ambientalista e catador Francisco Alvino, de um dia poder comer os peixes do Rio Salgado. Os banhos na infância é a lembrança de um rio que hoje agoniza, com o alto índice de poluição. Há quatro meses, Alvino, com o grupo de catadores da Associação Engenho do Lixo, que atua na despoluição do manancial, chegaram a encontrar no leito uma urna funerária, tal é o desrespeito pelo rio, um dos patrimônios fluviais que corta diversas cidades na região.
Ontem, Dia Mundial da Água, o Rio Salgado apresentou o pior resultado de análise de água de cidades cearenses, considerado "ruim", de acordo com classificação de projeto desenvolvido pela Fundação SOS Mata Atlântica, por meio do Programa Rede das Águas.
Mais dois rios do Estado foram considerados em situação "regular", o Acaraú, em Sobral, e o Riacho Gonçalo, em Tianguá. O resultado das análises, realizadas desde janeiro de 2011, foi divulgado ontem, com situações levantadas em 11 Estados brasileiros. Dos Estados monitorados, 75,5% foram classificados como "regular" e 24,5% no nível "ruim". Nenhum dos pontos de coleta conseguiu a soma necessária para alcançar os níveis "bom" ou "ótimo".
Os critérios de classificação e monitoramento do nível de qualidade das águas, com coordenação do Programa Rede das Águas, envolve cinco níveis de pontuação, que inclui péssimo (de 14 a 20 pontos), ruim (de 21 a 26 pontos), na qual está inserida o Rio Salgado, regular (de 27 a 35 pontos), bom (de 36 a 40 pontos) e ótimo (acima de 40 pontos).
Os níveis de pontuação são compostos pelo Índice de Qualidade da Água (IQA), padrão definido no Brasil por resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), obtido pela soma da pontuação de 14 parâmetros físico-químicos, biológicos e de percepção, avaliados com auxílio do kit. Em cada análise são avaliados a temperatura, turbidez, espumas, lixo, odor, peixes, larvas e vermes brancos ou vermelhos, coliformes totais, oxigênio dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio, potencial hidrogeniônico, níveis de nitrato e de fosfato. Cada um destes parâmetros pode acrescentar de um a três pontos, obtendo o mínimo de 14 e máximo de 42 pontos.
E a sociedade tem feito um clamor pela revitalização do Rio Salgado. Alguns trechos do rio, denominado de forma carinhosa pela sociedade como Salgadinho, são considerados puro esgoto. A Universidade Regional do Cariri (Urca), desenvolveu durante o ano passado o Projeto Piloto para o Enquadramento das Águas do Semi-Árido Brasileiro - Projeto Salgado, com a coordenação geral do professor Rodolfo Sabiá, do Departamento de Engenharia de Produção da instituição. Para o pesquisador, essa foi a primeira medida efetiva de gestão da água, olhando para a sua qualidade.
Coliformes fecais
De acordo com levantamentos realizados por pesquisadores, em alguns trechos há índices altíssimos de coliformes fecais e alto teor de poluentes de todos os gêneros. A ponte sobre o Rio Salgado, para quem vai ao Horto pela estrada velha, poderia ser um lugar de contemplação da natureza. Nas margens do rio assoreado, muito lixo e esgotos sendo despejados. Seu Alvino guarda no depósito do Engenho do Lixo fogões, geladeiras, cama, armário e até vasos sanitários encontrados ao longo do trajeto de 1,5 quilômetro, percorrido uma vez por mês, para a coleta de lixo, com os catadores que fazem parte da associação. Além disso, tem feito um trabalho de replantio de árvores nas margens como garantia da área.
São 12 anos de um trabalho que virou uma missão de vida para seu Alvino. Ele mesmo diz que continuará até o último dia de sua vida, com a esperança de ver recuperado o rio que conheceu em sua infância e foi motivo de tanta alegria e recordações de uma vida saudável. Ele destaca o incentivo que tem sido feito, nos últimos anos, relacionados ao poder público, instituições de ensino e projetos por meio da iniciativa privada. Mas ainda não são ações suficientes para conter o alto índice de poluição.
A Bacia do Salgado é responsável por grande parte do abastecimento de água da região do Cariri e será o portal de entrada da integração de bacias do Ceará com o Rio São Francisco. Mas os técnicos reclamam por ações mais efetivas, contribuindo para a despoluição, inserindo a sociedade num processo de conscientização para a sobrevivência do manancial.
ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER
Aguapés proliferam no Quixeramobim
Quixeramobim. Os aguapés cobrem o espelho d´água do Rio Quixeramobim. A poluição, provocada por dejetos orgânicos, na maioria, de esgotos jogados nos mananciais e reservatórios, está servindo de nutrientes para a vegetação sobre a água. O mau cheiro no leito é outro sinal da poluição. O Rio Quixeramobim está enfrentando esse problema. O fenômeno pode ser observado na Via Paisagística, uma área de lazer desta cidade.
De acordo com a presidente do Conselho Municipal do Meio Ambiente (Condema), Mazé Damasceno, nos últimos anos estão sendo realizadas campanhas de conscientização e outras ações para frear a poluição do rio. O Selo Verde, promovido pelo Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam) e Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) é um exemplo. Nas últimas sete edições do programa, Quixeramobim conquistou o seu "Selo". Mas apesar do esforço, os vizinhos de cima não estão colaborando. Ela se refere ao Município de Monsenhor Tabosa, onde o rio nasce, Boa Viagem e Madalena, cortados pelo afluente. "Itatira também entra na lista. Tem um braço do Quixeramobim", acrescenta.
Tia Mazé, como a líder ambientalista é mais conhecida, informou ter enviado solicitação à presidenta da Associação dos Prefeitos do Estado do Ceará (Aprece) para, junto à Assembleia Legislativa, agendar audiência pública abordando a necessidade de revitalização do Rio Quixeramobim. Ela aguarda e realização da audiência ainda neste mês de março. Segundo a ambientalista, o projeto foi apresentado a titular da Aprece, prefeita Eliene Brasileiro, em dezembro passado.
A presidente do Condema de Quixeramobim disse ter recorrido à Aprece em razão do desinteresse dos gestores públicos dos demais Municípios banhados pelo manancial. Segundo ela, não estão promovendo ações para minimizar a poluição do rio. No caso de Quixeramobim, alertado sobre as consequências para a população, o prefeito Edmilson Júnior resolveu buscar recursos em Brasília. A área urbana da cidade está recebendo rede coletora de esgotos. O convênio foi assinado com a Caixa Econômica Federal (CEF) em dezembro de 2010. As obras deverão estar prontas antes do fim do ano.
A reportagem procurou manter contato com a presidenta da Aprece, a prefeita de General Sampaio, Eliene Brasileiro. Até o enceramento desta edição não foi possível confirmar as informações da presidente do Condema de Quixeramobim.
A titular da Aprece não estava na sede da Associação. Participava de um encontro na Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), do Governo do Estado. Também não foi possível retorno dos contatos com os prefeitos das cidades banhadas pelo Rio Quixeramobim.
Sobre o exemplar aquático conhecido popularmente por aguapé, após analisar as fotos fornecidas pela reportagem, a bióloga professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ligia Queiros Matias, explicou não ter como confirmar a espécie exata em razão dos vegetais estarem sem as flores. Mas provavelmente são da espécie Eichhornia crassipes (Mart.) Solms, muito comum em áreas tropicais.
Conforme a especialista, a retirada das plantas presentes no corpo d´água, a remoção das fontes poluidoras e a revitalização da cobertura vegetal presente nas margens do rio são as melhores formas de controlar as populações de aguapés.
FIQUE POR DENTRO
Três cidades são banhadas pelo manancial
O Rio Quixeramobim é um rio brasileiro que banha o Estado do Ceará. Era originalmente conhecido pelos índios que habitavam a região como Ibu. Nasce na Serra das Matas em Monsenhor Tabosa e banha mais três Municípios: Boa Viagem, Quixeramobim e Banabuiú. Sua bacia hidrográfica abrange também o Município de Madalena, a maior parte de Itatira e uma pequena parte de Santa Quitéria. Em seu leito estão construídos os açudes Monsenhor Tabosa, na cidade homônima, o Fogareiro e o Quixeramobim, no Município do mesmo nome. Os três açudes são a principal fonte de abastecimento hídrico para os dois Municípios banhados pelo Quixeramobim. O leito sofre uma variedade de degradação ambiental, o que compromete a qualidade da água, bem como dos animais que dependem do rio para sobreviverem. Esgotos despejados no rio são a principal fonte de poluição, o que favorece a proliferação de aguapés, no fenômeno conhecido como eutrofização.
ALEX PIMENTEL
COLABORADOR
Fonte: Diario do Nordeste
Fonte: Diario do Nordeste
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